Olha sua xícara cheia de café. Bem lá no fundo. Respostas? Cadê? Cachos, muitos cachos e embaraços. Cadê os lábios vermelhos pra pintar teu corpo?
Maldito! Maldito seja o dia em que a viu pela primeira vez! Maldito seja cada passo dado ao lado dela, cada troca de olhar.
Agora, olha a sua garrafa de uísque 20 anos, cheia até a metade. Levanta-se da poltrona em direção ao balcão, larga sua xícara de café e enche um copo com uísque. Vira tudo em dois goles. Cadê os lábios vermelhos para tingir os lábios teus?
Arranca a blusa de botões como se arrancasse um pedaço do coração, bagunça o cabelo curto como se fosse encontrar alguma resposta, algum sentido. Maldito seja o cabelo dela, que parece o sol brilhando num dia de verão.
Mais uísque, dessa vez com gelo. Vai ao banheiro e para na frente do espelho. O que vê são olhos vermelhos e vazios, barba mal feita sobre pele ressecada de decepção. Cadê os lábios vermelhos para dar vida à sua palidez?
Vai ao quarto e pega papel e caneta. Retorna à sala e olha a varanda. Décimo primeiro andar é uma boa altura. Rabisca algumas palavras no pedaço de papel enquanto fuma um Lucky Strike, e larga-o na estante da sala de estar.
Dirige-se à varanda, dá um impulso com o corpo e sente o vento contra seu rosto e todo o seu corpo. Sente sua aproximação do chão. Cadê os lábios vermelhos para juntar-se ao vermelho do sangue que tinge a calçada?