Eu já me sentia um adulto, e eu tinha capacidades de um adulto. Eu sabia me virar sozinho, sabia andar só pela cidade, era capaz de qualquer coisa que um adulto seria capaz. Mas insistiam em me prender, insistiam em me proteger exageradamente, como se eu fosse um impossibilitado de qualquer coisa, como se fosse uma criancinha indefesa.
Mandavam eu calar a boca e respeitar, e ficar em casa sozinho no meu quarto. Depois queixavam-se aos outros que não suportavam a minha "fase", mas que diabo de fase é essa? Eu só queria sair sozinho! Nunca pararam pra me ouvir nem entender o que eu sentia, pra mim, eram todos tão egoístas que não existia preocupação. Não aceitavam minhas músicas, minhas roupas, meus gostos, nem meus amigos.
Sempre pensavam que eu era um adolescente revoltado, mas eu só queria sair sozinho. Reclamavam das minhas atitudes, dos meus gestos, das minhas palavras. Fiquei tão chateado uma época que só fazia estudar, pra ver se elogiavam alguma coisa que eu fizesse. É, isso até que deu certo por um tempo, mas chega uma hora que voce se cansa das coisas que faz de praxe. E eu só queria sair sozinho.
Mais discussões por conta das minhas vontades aconteciam, mais quimeras iam surgindo, mais alucinações, mais lágrimas corriam pela minha face, mais vermelho de raiva meu rosto ficava.
Foi numa noite dessas discussões, que eu fiquei revoltado de verdade. Eles tentavam me proteger do mundo, mas o mundo gritava meu nome cada vez mais alto, cada vez mais irresistível.
Saí de casa no meio da noite, apenas com algum dinheiro no bolso. Corri saltitando por toda a Avenida Paulista, entrei em lojas, fiz um moicano, coloquei piercings e passei a madrugada na rua Augusta.
Eu só queria sair sozinho.
Crônicas da Minha Geração
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O barulho das gotas do chuveiro mal fechado pingando pigando pingando me
incomoda tanto que é quase eu que escorro pelo ralo da minha paciência.
Tortura ...
Há 13 anos

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