segunda-feira, 27 de abril de 2009

Esconderijo

Tudo isso poderia ser bonito
Se essas paredes não escondessem dor
Se por baixo dos túmulos não houvessem mentiras
Tudo tornaria-se beleza
Se não fosse a tristeza
Que ela traz escondida por trás de uma máscara
Com olhos escuros que escondem
A verdadeira face.
Sentimentos de culpa
Invadem um jovem coração
Ansioso por perdão
Sangrando de saudade
Através de todas essas imagens
Todos esses olhares santificados
Cobertos de ouro e detalhados
Encontra-se a dor de uma perda
A dor da culpa
Haveria felicidade
Se fosse independentes e não seguissem modelos
Não há felicidade.
Há desespero.
Há culpa.
Bobagens causam tragédias
Haveria vida
Se não houvesse a morte
Na última vez que pisou numa igreja.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Memórias rubras de um sonhador



Eu quero entender porque esses sonhos me perseguem, na verdade não sei nem se posso chamá-los de sonhos, são verdadeiros pesadelos. Queria perguntar a ele pra quê tanta perseguição, mas não consigo me comunicar, os mesmos simplesmente tomam conta do meu ser, me deixam sem reação e submisso. Mas que merda! Me deixem em paz! Abandonem a escuridão da minha mente e dos meus pensamentos!

Já não durmo normalmente há muito tempo, não lembro exatamente quando os pesadelos começaram, mas tem bastante tempo, sim. Tudo isso deve ser culpa do meu passado sombrio... Ah, esses tempos que invadem meu presente, não aguento mais. Só porque eu tenho um passado, que alguns diriam sujo, e agora estou velho e inútil, essas porras desses pesadelos insistem em me dominar.

Tem coisas que não tem mais jeito, você só tem que aceitar. E é o que eu tento fazer com meus sonhos. tento deixar de lado meu pretérito trágico e mortal, meus desejos que nunca serão realizados e minha falta de arrependimento. Mas quem agora vai se importar com um velho carrancudo e acabado? Ninguém. Minha única companhia são meus pesadelos.

Lembro agora do último homem que matei, era tão jovem, coitado! Mas tive que matá-lo, afinal, eu tenho fome e tenho um inquilino. Foi até bonito o sangue se espalhando na parede, e respingos vermelhos voando para todos os cantos, e depois, escorrendo junto a ele. Pobre rapaz, tinha um filho, uma namorada e uma família. Mas eu tinha fome e aquele outro lá me pagou bem pra matar o infeliz.

Ninguém mais agora precisa de um velho inútil, só meus sonhos. Passo a desconfiar que eu tambem preciso deles, ou será que no fundo tenho algum arrependimento e eles queremme mostrar isso? É, talvez.

Me lembrei com isso de uma mulher que eu executei, foi a mais bela que já vi nesses meus 72 anos de vida. Deu até pena de matar um ser humano tão bonito. Foi o namorado dela que me pagou, mas que homem miserável! Mandar matar um ser tão bonito e com um ar tão inocente. Foi até um pouquinho doloroso pra mim quando as balas atravessaram o peito e a garganta daquela mulher. Fui eu que vi o último olhar vivo dela; aqueles olhos azuis me fitaram com tanta dor e duvidas durante alguns segundos, depois morreram.

Entre todos, o que mais marcou a minha memória foi o primeiro que matei, há 50 anos atrás. O único que matei com raiva e com vontade mesmo. Aquele viado nfeliz arranhou meu carro "novo", só porque eu esava devendo algum dinheiro no barzinho lenhado dele. Passei um facão no pescoço do homem, e foi ali que ouvi a morte pela primeira vez, foi nossa rubra apresentação, um tanto agradável. Ate hoje, só em pensar naquele homem, fico morrendo de raiva.

Meus sonhos e minhas memórias tingem-se de vermelho, a cor que mais vi emtoda a minha vida. E nesse momento, só espero a noite chegar, para passear com meus pesadelos, alguém pra me contratar ou a morte vim me buscar. Não tenho medo da morte, ela que deveria ter medo de mim.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Dream's colour

Nunca prestei muita atenção nas cores dos meus sonhos, até que eles passaram a influenciar meu dia-a-dia e invadir meus pensamentos vagos. Elas me deixam vagando por aí no meu mundinho, conseguem fazer até mesmo eu me perder num mundo que eu mesma criei.
São cores escuras que se repetem nos sonhos repetidos. Repetições dos meus medos, repetições d'eu te perdendo, repetições de perseguições, repetições de fugas, repetições dos meus textos, repetições de palavras, repetições de repetições. Nada inovador.
Definitivamente, preciso de uma aquarela, para pintar meus sonhos e meus rabiscos. Faltam tantas cores, tantos sabores e tantos amores, que nem sei com o que começar. É difícil ter sonhos em preto e branco ou sépia, ainda mais quando voce é retratada por um arco-íris.
Arco-íris é a minha dita realidade, sépia e preto e branco são meus sonhos. Será isso a verdade? Pois pra mim ainda existe uma outra "realidade", que é o meu mundo, onde passo parte do meu tempo. Por causa disso me chamam de distraída, desastrada, lerda e até blasé.
Ultimamente, meu estojo de pastel, folhas em branco, vinis, caneta preta e palhetas tem sido meus melhores amigos.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


Tatuar, para mim, é uma das artes mais belas. Olhem só que incrível, desenhar em corpos humanos. É como se o tatuador deixasse um pedacinho dele com a preferência do tatuado, em cada obra de arte feita sob a pele. Uma das minhas diversões é fazer 'tatuagens' nos meus primos com caneta, e o que mais me agrada é como eles ficam felizes depois. Meu primo mais velha costuma dizer que eu teria sucesso como tatuadora (e é o que eu espero.).

Fico revoltada como a tatuagem é marginalizada. É uma arte tão bonita e comovente como qualquer outra (pelo menos pra mim). Ainda tem suas peculiaridades, é uma arte que de certa forma não pode ser apagada, é feita sob um material ainda vivo e te marca pra sempre, ou até seu corpo se decompor. É uma arte que vai te acompanhar sempre, em qualquer lugar que for.

Espero ter futuro como tatuadora.

Enfim, já chega. Mais nada a declarar sobre tatuagens.


Nota rápida: meus brainstorms estão cada vez mais escassos.

aaah, e ela me esnoba...

domingo, 19 de abril de 2009

Tudo, você

Tudo o que eu queria era te ter por perto
e esquentar essa minha alma fria
que anseia por um teto
onde eu poderia
esconder pnesamentos fétidos

Tudo o que eu desejo
é me fixar no seu olhar
sentir o gosto do seu beijo
e o seu sorriso me acalmar
e agora tudo o que vejo
é o dia em que vou te encontrar

Tudo o que eu sonho
é acabar com essa distância
que deixa meus olhos tristonhos
e voce é minha constância
meu bem, realize meu sonho
e acabe com minha ânsia

Tudo o que eu preciso
é o doce da sua boca
é ouvir o seu riso
e preencher minha mente oca
é voce me tirar o juízo
e me deixar completamente louca

Tudo é voce
Voce completa tudo
É o refúgio do meu ser
que antes tinha o coração mudo
até te conhecer
e me afogar no seu ser, tudo.

Um pouquinho de autismo


Há algum tempo, descobri que tenho dois corações. Um no peito, no seu (talvez) devido lugar e outro na cabeça. Parei pra analisar os dois órgãos e vi que o do peito estava despedaçado e que estava sendo difícil viver assim. O mesmo praticamente não pulsava, estava fraco e eu, morrendo. É bem difícl curá-lo, só, seria impossível preciso da ajuda de alguém.

Outro dia tentei acabar logo com o sofrimento do tal coração, mas ele pareceu reagir, e nunca pulsou com tanta velocidade e com tanta força em toda a minha vida. Ele foi tão forte dessa vez, que parecia querer fugir do meu corpo. Fez minhas pernas, minhas mãos e meu queixo tremerem, fez meu sangue escorrer e tentou escurecer minhas vistas. Me derrubou. Depois de algum (muito) tempo, ele voltou a bater normalmente, fraco, dolorido, devagar. Deixei ele lá, desisti de dar atenção a ele.

Já o outro coração, continua lá intacto na minha cabeça. Ainda não aprendi a usá-lo. Ele poderia ser um bom substituto. O tal coração no entanto, não serve pra nada, só me faz lembrar às vezes de sua existência com minhas dores de cabeça, e perceber que vivo isolada num mundinho só meu, um mundo de idéias desconexas e estúpidas, um mundo totalmente paroxal. E nesse mundo só existe eu, e voce nos meus pensamentos.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

"Watch me fall, like dominos"


Pessoas caem e derrubam outras, ou simplesmente derrubam, sem elas mesmas caírem. É difícil encontrar bondade num mundo feio desse, onde pessoas parecem peças de dominó, uma preparada para acabar com a outra. Vivemos num ring, o qual serve de palco para todos esses conflitos sociais e pessoais.
Eu mesma, o que estou fazendo aqui? Postando num blog, segundo minhas concepções. Mas o que pretendo postando nesse blog (que é sem graça, por sinal)? Talvez esteja aqui competindo com todos os outros blogs. Todos uma hora acabam ferindo os outros, mesmo sem querer.
Eu não queria ser humano, para não machucar as pessoas, tampouco queria ser uma rosa. Queria mesmo era ser um ser inativo, sem sofrer e sem machucar, apenas um ser imóvel em relação a todo sentimentalismo em sua volta.
Mas o que eu mais queria, de verdade, era alguém que me tirasse daqui e me mostrasse outro mundo, um mundo de verdades absolutas, não seria nem ao menos necessário amor, apenas um mundo onde todos os meus questionamentos pudessem ser respondidos.
Esse mundo é um ring e é cada um por si só.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Durmo

Tenho medo dos meus sonhos
Que aumentam a tetricidade das minhas noites
Maltratam meu sono com um açoite
Pesadelos escondem-se na escuridão
da minha mente e do meu quarto
Libertam-se no escurecer do longo dia
Atacam um corpo sobre a cama,
Imóvel, inóspito, indesejado, imbecil.
Uma mente sem um destino
Pensamentos vagando à procura de algum sentido
Para a vida ser sentida.
Sonhos medonhos continuam perturbando-me
Noites sendo perseguida
Apenas um motivo e deixarei de estar perdida
Canso-me de fugir
Cansa-te de me seguir.
Inquietações do meu passado
Refletem-se nas minhas madrugadas
Perseguida, caminho sempre acompanhada
Por meus temores e pela escuridão
Por olhares sombrios colecionando mentiras
Manhãs perambulando à procura de uma salvação
Tardes a espera de mais um escurecer
À noite, deito abraçada com o meu medo,
como um urso de pelúcia
No escuro, o medo sussurra no meu ouvido
como uma canção de ninar
Durmo.
Preciso de alguém firme, com toque seguro, que faça-me perceber a vida e acabar com minhas fraquezas e indecisões.
Preciso de alguém que mostre-me um novo caminho, onde eu encontre a luz para iluminar minhas noites inóspitas.
Preciso de alguém que faça-me sonhar novamente, que acabe com os meus pesadelos e me dê uma aquarela.
Preciso de alguém que proteja-me dos meus medos ou acabe com eles, e que não me deixe só.
Preciso de alguém que ajude-me a acabar com a minha solidão ou que me acompanhe na busca do meu próprio ser.
Preciso de alguém que já tenha encontrado a si mesmo, para mosrar-me o verdadeiro caminho.
Preciso de alguém que não seja feito total de amor, pois já tenho demais em mim.
Preciso de alguém com quem eu possa compartilhar minha dor, que chore junto a mim, que faça pactos comigo.
Preciso de alguém que saiba o que eu sinto, que viva o que eu vivo e queira morrer como eu.
Preciso de alguém que seja apenas alguém. Mas procuro em vão, não encontro niguém.

domingo, 12 de abril de 2009

Blurry Eyes


Sábado à noite foi para o mesmo lugar de sempre, onde haviam shows de rock. Nessa noite, tocaria em especial uma banda que ela adorava. Antes de sair, enquanto se arrumava, o celular tocou. Saiu apressada do banheiro em direção à cama, onde tinha jogado o telefone, que parou de tocar quando encontrou-o. Olhou a ligação não atendida no aparelho e não reconheceu o número. Voltou ao banheiro, bagunçou o cabelo curto, calçou seu all star, pegou as chaves de casa e da moto, saiu, bateu a porta atrás de si, desceu dois andares e escada, subiu na moto, deu partida e deixou a garagem em direção ao show.

Dez minutos depois, chegou no lugar que já começava a ficar cheio de pessoas, em média de 16 a 22 anos. A maioria de jeans, tenis e cabelos com cortes modernos, alguns descoloridos, outros coloridos até demais.

Seu coração acelerava cada vez mais à medida que se aproximava da entrada. A expectativa era de encontrar uma pessoa que, há muito não via. Mas não seria agradável para ela encontrar essa pessoa, já que sempre se lembrava do quanto sofria por conta da tal.

Entrou no lugar, cheirava a cigarro e bebidas, uma banda já tinha começado a tocar. Andou sem rumo, se esbarrando em alguns que estavam empolgados com a música, até que enxergou um barman. Chegou perto do balcão onde serviam as bebidas, sentou-se num banco e pediu um Martíni rosé, tirou do bolso do seu jeans rasgado no joelho um cigarro e acendeu-o. Olhava a multidão em volta, sem prestar muita atenção em ninguém, seus pensamentos encontravam-se em outro lugar. Mais um cigarro e alguns goles de Martíni. Mais rostos desconhecidos.

A banda que estava no palco então, começou a tocar "Lazy Eye", uma música de Silversun Pickups, que ela amava. Mais uma dose de Martíni. Levantou-se e foi para perto do palco e lá ficou cantando, acompanhando a banda. A música acabou e ela voltou para o lugar onde estava sentada. Mais Martíni e mais cigarros.

Mais três músicas foram tocados e justo no momento que começaram outro cover de Silversun Pickups, dessa vez tocando "Kissing Families", que ela olhou pro lado e seus olhos alcançaram quem ela queria (e não queria) ver. Fixou-se naquela moça alta, de cabelos lisos preto, um pouco acima do ombro, com olhos de criança e corpo de mulher. O olhar das duas se encontraram, ficaram encarando-se o que pareceu horas, até que a outra desviou o olhar. Seu coração batia acelerado, ainda mais com o efeito da bebida e dos cigarros. Ela começou a tremer.

Mais Martíni e mais cigarros.

Levantou-se e foi atrás da outra. Encontrou-a só, sentada num canto com um copo com vodka na mão. Parou em frente a ela e ficaram mais uma vez encarando-se. A moça de jeans rasgados, abaixou-se sem mencionar uma palavra. Seus rostos ficaram na mesma altura. Ela foi aproximando-se e beijou com leveza os lábios da outra, que ficou sem reação. Um sussurro saiu da boca dela: ''eu te amo''. Fechou os olhos, levantou-se e saiu do show.

Chovia muito, ela foi andando procurando sua moto, que não encontrava, seu celular tocou novamente, não atendeu e nao recoheceu o número. Estava tonta, muito tonta, o Martíni fazia efeito. Lágrimas escorriam descontroladamente pela sua face, até que encontrou a moto. Desorientada, deixou o capacete cair, deu partida na moto e saiu em alta velocidade. Não enxergava direito por causa do choro e da chuva, seus olhos completamente embaçados.

Não sabia onde encontrava-se, corria sem rumo. Foi quando ouviu um barulho que lembrava uma buzina, e uma luz vinha em sua direção. Sentiu um impacto muito forte e seu corpo parecia ter sido arremssado a uma distância muito grande, ouviu barulhos, tudo estava tão confus, via luzes, ou uma única luz. Agora, tudo escuro.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ó, Páscoa...


Janela, chocolates e ausência de pessoas. Susto com vizinhos e mais chocolates. Mariposas te perseguindo, sua mãe conversando sozinha com o computador e mais um pedacinho de chocolate. Contos, livros, papel e caneta e pra completar, mais um pedaço de chocolate. Blusa manchada de peixe, crianças hiperativas gritando e mais chocolate. Uma pessoa emocionada, felicidade momentânea e mais chocolate. Sexta-feira que parece domingo, muito tédio e mais chocolate. Cansaço, dor-de-barriga, começo de páscoa, flores caídas e acabou o chocolate.

Moldura

Seu rosto por trás de uma moldura
É como uma pintura
Que fiz pra ti e que representa a doçura
Da moça da primevara
Que vive de quimera
De flores e de paixões
E que deseja dois corações
Que abriguem todos os seus amores
Feitos de canções
E do jardim com suas flores

Seu olhar é amplo como o céu
E o seu sorriso escondido sob o véu
transparece cheio de mistérios
Da moça de critérios.
Seus passos seguem o sol
De cima dos sonhos, tira o lençol
Desabrocham desejos
Que desencadeiam arquejos
E toca uma orquestra dentro de si
Doce menina
De cabelos enrolados,
enrolados nas nuvens
Tão pequena, que não sei
Como cabe tanta coisa dentro de si
Tão grande, eu sei
É o amor e amizade que tenho por ti
Minha pequena, Vanny.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Swings


Swings and clowns, childhood, innocence, memories of a happy child.



Vidas que vão e voltam, são como a minha e de algumas pessoas por aí. Envolve todo um sentimentalismo prolixo.

Tenho me cansado de tudo o que está em minha volta, enjoo de tudo tão facilmente que isso me enche o saco.

Lembro-me da minha infância, quando tudo era inédito e fascinante, uma descoberta atrás da outra. Queria voltar no tempo e apagar toda a minha memória, assim eu poderia descobrir tudo e ver a mágica do mundo novamente, até o dia em que eu crescesse e tudo mais uma vez perdesse a graça. É para mim, simplesmente como um balanço.

Tudo isso não passa de swings.

Agora somente coisas bonitas me fazem chorar. Coisas tristes não mais me surpreendem, cansei delas. Penso em bolas de gude, para mim são tão bonitas quanto o pôr-do-sol é para alguns. Essas pequenas e pesadas bolinhas me dão vontade de chorar, e fico imaginando como a simplicidade mexe com as pessoas (pelo menos comigo e algumas pessoas que conheço).

Outro dia vi os olhos de uma pessoa brilharem e um sorriso expandir-se na sua face, depois de eu dar-lhe um pirulito. Sim, isso ultimamente tem me dado vontade de chorar.

Continuo pensando em bolinhas de gude e na sua essência, elas me lembram olhos. Olhares vazios e olhares pensativos; olhares tristes e olhares que refletem alegria; olhares infantis e olhares já experientes; olhares recém-nascidos e olhares vividos; só olhares. Talvez me lembrem também meus olhos há algum tempo atrás, ou meus olhos atualmente.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu queria ter um fígado a mais que substituisse o coração, eu seria mais feliz. Mais dois pulmões também seriam interessantes. Mas fico imaginando, se tivesse quatro corações, não sobreviveria mais de uma semana.
Corações são frágeis e inúteis. Fígados a mais teriam mais utilidade que um coração, você não teria cirrose tão facilmente.

domingo, 5 de abril de 2009

Consulta

Quinta-feira à tarde, belo dia para ir a um
ginecologista, principalmente quando no dia seguinte você
tem uma prova de física. Às três e vinte chega ao
consultório, abre a porta e a sala de espera está cheia de
mulheres esperando para serem atendidas. Cadeiras? Todas
ocupadas. A garganta seca, pede um copo d'água para a
recepcionista. Sente a água gelada descendo e molhando sua
garganta. Suas pernas doem e tem que ficar em pé, até que alguém
levante do seu lugar. Logo, a porta abre-se e uma paciente
de meia idade, com cabelos crespos sacola numa mão, bolsa
na outra, sai. Mais uma paciente é chamada. Um lugar vago.
Senta e descansa as pernas doloridas. Cinco minutos depois, pega o celular e começa a jogar
"Snake", um jogo de última geração, assim como sua bisavó.
E foi só pensar em bisavó, que entra na sala uma senhora
de cabelos brancos. Olha para os lados, as mulheres ao
redor parecem ter por volta dos 50 a 65 anos. A mais nova
ali era ela, será que estava num consultório ginecológico
ou geriátrico? Por pura boa vontade do destino, ela teve
que levantar e ceder o seu precioso lugar para a velha. Continuou divertindo-se com o joguinho do celular, dessa
vez, em pé. Mas alguns minutos, e a paciente sai do
consultório, então, entra outra. Uma cadeira livre, um
alívio. Guardou o celular e passou a observar a respiração
da velha que havia entrado na sala há pouco, ela parecia
poder ter um colapso nervoso a qualquer momento. Desviou a
atenção. Começa a pensar no dia agradável que teve. Temperatura
por volta de 35ºC, caiu da escada e quase quebrou o pé,
foi picada por uma abelha na axila esquerda, espirraram
catchup no seu olho, bateram sem querer um violão na sua
cabeça, seu gato morreu envenenado, levou uma bolada na
cara jogando vôlei, perdeu dez reais, seu outro celular
caiu no vaso sanitário e agora está em uma clínica
ginecológica esperando ser atendida. Foi um dia realmente
agradável e que ela conseguiu sobreviver, até ali. Olha o relógio pela milésima vez, três e quarenta e
sete. Levanta o olhar para as pessoas em volta, estão
todas concentradas em suas revistas de fofoca. Mais vinte
minutos se passam e suas nádegas começam a doer. A
paciente sai do consultório e outra entra. Mais uma mulher chega na clínica, aparemta ter uns 30
anos e está acompanhada por uma criança com seus 6 ou 7
anos de idade. Observa a mulher falando com a
recepcionista enquanto o menino puxa a sua roupa tentando
chamar a atenção. Ela pede calma. A dor nas nádegas passa a ser uma dormência. Tira um
chiclete do bolso, coloca na boca e começa a mascar. Nesse
instante, a criança olha furtivamente na direção dela e
percebe o chiclete. Desgruda da mãe, que já não presta
mais atenção no menino, e vai seguindo o cheiro do doce.
Olhar desconfiado, e vai aproximando-se cada vez mais. - Tia, me dá um chiclete? Silêncio constrangedor. Todas levantam os olhares de
suas revistas e prestam atenção ao menino, ao chiclete e à
moça que mascava. A mãe se vira e puxa o menino pelo
braço, reclamando-o. Mais uma paciente sai do consultório e, finalmente
depois de tanto tempo à espera, é chamada e entra no
consultório. O atendimento é um pouco demorado e igual a
todas as outras vezes. Antes de sair, olha o relógio,
quatro e trinta e nove. Sai do consultório e vê o menino encostado no balcão,
mexendo em alguma coisa que ele provavelmente
achou interessante. Tira um chiclete do bolso e deixa ao
lado do menino. A criança olha para cima, espantadae ao
perceber o chiclete e quem o dera, dá um sorriso com os
olhos brilhando e vendo a moça se afastar em direção à
porta. Fecha a porta atrás de si, e anda com uma sensação de
ter sido examinada internamente. Vai para casa pensando no
chiclete, no menino, na velha e no exame. Chega viva em
casa.