quinta-feira, 23 de abril de 2009

Memórias rubras de um sonhador



Eu quero entender porque esses sonhos me perseguem, na verdade não sei nem se posso chamá-los de sonhos, são verdadeiros pesadelos. Queria perguntar a ele pra quê tanta perseguição, mas não consigo me comunicar, os mesmos simplesmente tomam conta do meu ser, me deixam sem reação e submisso. Mas que merda! Me deixem em paz! Abandonem a escuridão da minha mente e dos meus pensamentos!

Já não durmo normalmente há muito tempo, não lembro exatamente quando os pesadelos começaram, mas tem bastante tempo, sim. Tudo isso deve ser culpa do meu passado sombrio... Ah, esses tempos que invadem meu presente, não aguento mais. Só porque eu tenho um passado, que alguns diriam sujo, e agora estou velho e inútil, essas porras desses pesadelos insistem em me dominar.

Tem coisas que não tem mais jeito, você só tem que aceitar. E é o que eu tento fazer com meus sonhos. tento deixar de lado meu pretérito trágico e mortal, meus desejos que nunca serão realizados e minha falta de arrependimento. Mas quem agora vai se importar com um velho carrancudo e acabado? Ninguém. Minha única companhia são meus pesadelos.

Lembro agora do último homem que matei, era tão jovem, coitado! Mas tive que matá-lo, afinal, eu tenho fome e tenho um inquilino. Foi até bonito o sangue se espalhando na parede, e respingos vermelhos voando para todos os cantos, e depois, escorrendo junto a ele. Pobre rapaz, tinha um filho, uma namorada e uma família. Mas eu tinha fome e aquele outro lá me pagou bem pra matar o infeliz.

Ninguém mais agora precisa de um velho inútil, só meus sonhos. Passo a desconfiar que eu tambem preciso deles, ou será que no fundo tenho algum arrependimento e eles queremme mostrar isso? É, talvez.

Me lembrei com isso de uma mulher que eu executei, foi a mais bela que já vi nesses meus 72 anos de vida. Deu até pena de matar um ser humano tão bonito. Foi o namorado dela que me pagou, mas que homem miserável! Mandar matar um ser tão bonito e com um ar tão inocente. Foi até um pouquinho doloroso pra mim quando as balas atravessaram o peito e a garganta daquela mulher. Fui eu que vi o último olhar vivo dela; aqueles olhos azuis me fitaram com tanta dor e duvidas durante alguns segundos, depois morreram.

Entre todos, o que mais marcou a minha memória foi o primeiro que matei, há 50 anos atrás. O único que matei com raiva e com vontade mesmo. Aquele viado nfeliz arranhou meu carro "novo", só porque eu esava devendo algum dinheiro no barzinho lenhado dele. Passei um facão no pescoço do homem, e foi ali que ouvi a morte pela primeira vez, foi nossa rubra apresentação, um tanto agradável. Ate hoje, só em pensar naquele homem, fico morrendo de raiva.

Meus sonhos e minhas memórias tingem-se de vermelho, a cor que mais vi emtoda a minha vida. E nesse momento, só espero a noite chegar, para passear com meus pesadelos, alguém pra me contratar ou a morte vim me buscar. Não tenho medo da morte, ela que deveria ter medo de mim.

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