Quinta-feira à tarde, belo dia para ir a um
ginecologista, principalmente quando no dia seguinte você
tem uma prova de física. Às três e vinte chega ao
consultório, abre a porta e a sala de espera está cheia de
mulheres esperando para serem atendidas. Cadeiras? Todas
ocupadas. A garganta seca, pede um copo d'água para a
recepcionista. Sente a água gelada descendo e molhando sua
garganta. Suas pernas doem e tem que ficar em pé, até que alguém
levante do seu lugar. Logo, a porta abre-se e uma paciente
de meia idade, com cabelos crespos sacola numa mão, bolsa
na outra, sai. Mais uma paciente é chamada. Um lugar vago.
Senta e descansa as pernas doloridas. Cinco minutos depois, pega o celular e começa a jogar
"Snake", um jogo de última geração, assim como sua bisavó.
E foi só pensar em bisavó, que entra na sala uma senhora
de cabelos brancos. Olha para os lados, as mulheres ao
redor parecem ter por volta dos 50 a 65 anos. A mais nova
ali era ela, será que estava num consultório ginecológico
ou geriátrico? Por pura boa vontade do destino, ela teve
que levantar e ceder o seu precioso lugar para a velha. Continuou divertindo-se com o joguinho do celular, dessa
vez, em pé. Mas alguns minutos, e a paciente sai do
consultório, então, entra outra. Uma cadeira livre, um
alívio. Guardou o celular e passou a observar a respiração
da velha que havia entrado na sala há pouco, ela parecia
poder ter um colapso nervoso a qualquer momento. Desviou a
atenção. Começa a pensar no dia agradável que teve. Temperatura
por volta de 35ºC, caiu da escada e quase quebrou o pé,
foi picada por uma abelha na axila esquerda, espirraram
catchup no seu olho, bateram sem querer um violão na sua
cabeça, seu gato morreu envenenado, levou uma bolada na
cara jogando vôlei, perdeu dez reais, seu outro celular
caiu no vaso sanitário e agora está em uma clínica
ginecológica esperando ser atendida. Foi um dia realmente
agradável e que ela conseguiu sobreviver, até ali. Olha o relógio pela milésima vez, três e quarenta e
sete. Levanta o olhar para as pessoas em volta, estão
todas concentradas em suas revistas de fofoca. Mais vinte
minutos se passam e suas nádegas começam a doer. A
paciente sai do consultório e outra entra. Mais uma mulher chega na clínica, aparemta ter uns 30
anos e está acompanhada por uma criança com seus 6 ou 7
anos de idade. Observa a mulher falando com a
recepcionista enquanto o menino puxa a sua roupa tentando
chamar a atenção. Ela pede calma. A dor nas nádegas passa a ser uma dormência. Tira um
chiclete do bolso, coloca na boca e começa a mascar. Nesse
instante, a criança olha furtivamente na direção dela e
percebe o chiclete. Desgruda da mãe, que já não presta
mais atenção no menino, e vai seguindo o cheiro do doce.
Olhar desconfiado, e vai aproximando-se cada vez mais. - Tia, me dá um chiclete? Silêncio constrangedor. Todas levantam os olhares de
suas revistas e prestam atenção ao menino, ao chiclete e à
moça que mascava. A mãe se vira e puxa o menino pelo
braço, reclamando-o. Mais uma paciente sai do consultório e, finalmente
depois de tanto tempo à espera, é chamada e entra no
consultório. O atendimento é um pouco demorado e igual a
todas as outras vezes. Antes de sair, olha o relógio,
quatro e trinta e nove. Sai do consultório e vê o menino encostado no balcão,
mexendo em alguma coisa que ele provavelmente
achou interessante. Tira um chiclete do bolso e deixa ao
lado do menino. A criança olha para cima, espantadae ao
perceber o chiclete e quem o dera, dá um sorriso com os
olhos brilhando e vendo a moça se afastar em direção à
porta. Fecha a porta atrás de si, e anda com uma sensação de
ter sido examinada internamente. Vai para casa pensando no
chiclete, no menino, na velha e no exame. Chega viva em
casa.
Crônicas da Minha Geração
-
O barulho das gotas do chuveiro mal fechado pingando pigando pingando me
incomoda tanto que é quase eu que escorro pelo ralo da minha paciência.
Tortura ...
Há 13 anos

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