
Sábado à noite foi para o mesmo lugar de sempre, onde haviam shows de rock. Nessa noite, tocaria em especial uma banda que ela adorava. Antes de sair, enquanto se arrumava, o celular tocou. Saiu apressada do banheiro em direção à cama, onde tinha jogado o telefone, que parou de tocar quando encontrou-o. Olhou a ligação não atendida no aparelho e não reconheceu o número. Voltou ao banheiro, bagunçou o cabelo curto, calçou seu all star, pegou as chaves de casa e da moto, saiu, bateu a porta atrás de si, desceu dois andares e escada, subiu na moto, deu partida e deixou a garagem em direção ao show.
Dez minutos depois, chegou no lugar que já começava a ficar cheio de pessoas, em média de 16 a 22 anos. A maioria de jeans, tenis e cabelos com cortes modernos, alguns descoloridos, outros coloridos até demais.
Seu coração acelerava cada vez mais à medida que se aproximava da entrada. A expectativa era de encontrar uma pessoa que, há muito não via. Mas não seria agradável para ela encontrar essa pessoa, já que sempre se lembrava do quanto sofria por conta da tal.
Entrou no lugar, cheirava a cigarro e bebidas, uma banda já tinha começado a tocar. Andou sem rumo, se esbarrando em alguns que estavam empolgados com a música, até que enxergou um barman. Chegou perto do balcão onde serviam as bebidas, sentou-se num banco e pediu um Martíni rosé, tirou do bolso do seu jeans rasgado no joelho um cigarro e acendeu-o. Olhava a multidão em volta, sem prestar muita atenção em ninguém, seus pensamentos encontravam-se em outro lugar. Mais um cigarro e alguns goles de Martíni. Mais rostos desconhecidos.
A banda que estava no palco então, começou a tocar "Lazy Eye", uma música de Silversun Pickups, que ela amava. Mais uma dose de Martíni. Levantou-se e foi para perto do palco e lá ficou cantando, acompanhando a banda. A música acabou e ela voltou para o lugar onde estava sentada. Mais Martíni e mais cigarros.
Mais três músicas foram tocados e justo no momento que começaram outro cover de Silversun Pickups, dessa vez tocando "Kissing Families", que ela olhou pro lado e seus olhos alcançaram quem ela queria (e não queria) ver. Fixou-se naquela moça alta, de cabelos lisos preto, um pouco acima do ombro, com olhos de criança e corpo de mulher. O olhar das duas se encontraram, ficaram encarando-se o que pareceu horas, até que a outra desviou o olhar. Seu coração batia acelerado, ainda mais com o efeito da bebida e dos cigarros. Ela começou a tremer.
Mais Martíni e mais cigarros.
Levantou-se e foi atrás da outra. Encontrou-a só, sentada num canto com um copo com vodka na mão. Parou em frente a ela e ficaram mais uma vez encarando-se. A moça de jeans rasgados, abaixou-se sem mencionar uma palavra. Seus rostos ficaram na mesma altura. Ela foi aproximando-se e beijou com leveza os lábios da outra, que ficou sem reação. Um sussurro saiu da boca dela: ''eu te amo''. Fechou os olhos, levantou-se e saiu do show.
Chovia muito, ela foi andando procurando sua moto, que não encontrava, seu celular tocou novamente, não atendeu e nao recoheceu o número. Estava tonta, muito tonta, o Martíni fazia efeito. Lágrimas escorriam descontroladamente pela sua face, até que encontrou a moto. Desorientada, deixou o capacete cair, deu partida na moto e saiu em alta velocidade. Não enxergava direito por causa do choro e da chuva, seus olhos completamente embaçados.
Não sabia onde encontrava-se, corria sem rumo. Foi quando ouviu um barulho que lembrava uma buzina, e uma luz vinha em sua direção. Sentiu um impacto muito forte e seu corpo parecia ter sido arremssado a uma distância muito grande, ouviu barulhos, tudo estava tão confus, via luzes, ou uma única luz. Agora, tudo escuro.

2 comentários:
Lindo Gáh, esse clipe é lindo demais!
E o conto ficou incrível, adoro finais trágicos...
voltei a postar no blog, mas nem devo aparecer muito por lá.
Um beijo, eu amo você!
amei o texto, mano
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